A História de Murças

A História de Murças

Saindo na estação de comboios da Covelinha, na margem direita do rio Douro, entre a Régua e o Pinhão, ficamos de frente para a actual adega da Quinta dos Murças – antigamente apenas um sólido armazém – ostentando o seu nome, de acordo com a velha tradição das quintas durienses.

A Quinta dos Murças é hoje uma propriedade agrícola de 155ha, situada ao longo de 3,2km na margem direita do rio. Impondo-se pela impressionante verticalidade das suas vertentes, acolhe dezenas das castas autóctones da região, e beneficia de uma riqueza paisagística única, onde se sobrepõem encostas íngremes, socalcos, ribeiros, vinhas e olivais.

A data da sua fundação não conseguimos precisar. A primeira referência escrita à Quinta dos Murças data de 1770, no livro de registo das qualificações dos vinhos de embarque da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.

No entanto, sabe-se que a Quinta já existiria, com outra designação, desde 1714 – na época, pertença de António Cardoso de Vasconcelos -, devido a um documento em que o fidalgo, ex-capitão-mor da vila de Murça, teria mandado instituir uma capela, no limite do lugar de Covelinhas. Da capela nem sombra, apesar de sabermos que foram feitos esforços, na altura, para a sua construção. Quem sabe, ainda a viremos a descobrir.

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Murças, Lda
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Adega Quinta dos Murças, Esporão
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Lagares, antes e depois
Presume-se que o nome tenha sido atribuído em referência a António Cardoso de Vasconcelos e a outros dos fidalgos capitães-mores de Murça que, pela sua continuada presença na quinta de Covelinhas, ao longo de gerações (mais de um século), passou a ser conhecida como Quinta dos Murças.

Situada em encostas xistosas, voltadas ao rio Douro, isto é, exposta predominantemente a Sul, a Quinta dos Murças goza de condições excepcionais para a produção de vinhos de qualidade.

Facto que vemos descrito em diversos documentos, como na célebre Descrição económica do território que vulgarmente se chama Alto Douro, escrita nos anos oitenta do século XVIII, em que é exaltada a zona compreendida entre os rios Corgo e Ceira: «A borda do Douro, desde a ribeira de Covelinhas até à foz do Corgo, produz os vinhos melhores e mais finos de todo o Alto Douro».

Daí que, nas demarcações pombalinas da região vitícola do Douro, em 1758, a Quinta dos Murças tenha sido incluída na «zona de feitoria», qualificada para produzir vinhos generosos de primeira qualidade, destinados à exportação para Inglaterra. 

Apesar das inúmeras referências à qualidade e excelência dos vinhos da Quinta dos Murças, a verdade é que as vinhas foram sendo continuamente negligenciadas e a Quinta transaccionada de família em família e de sociedade em sociedade. Até que, em 1943, Manuel Pinto de Azevedo assumiu a sua administração, comprometendo-se com a reabilitação do património e a replantação das vinhas.

Sob a direcção empenhada do agrónomo José de Freitas Sampaio, a Quinta dos Murças foi totalmente transformada, recebendo, em 1947, a primeira vinha ao alto plantada no Douro, bem como o primeiro sistema de autovinificação alguma vez utilizado na região, novos armazéns de estágio e uma nova adega.

A Quinta dos Murças permaneceu na posse da família até que, em 2008, o grupo Esporão adquiriu a propriedade aos bisnetos de Manuel Pinto de Azevedo, assumindo a condução de uma das propriedades mais interessantes do Cima-Corgo. Esta tem apetência para produzir vinhos do Douro e Vinho do Porto, juntando dois dos melhores e mais conhecidos vinhos de Portugal.

Possui perto de 300.000 videiras. Plantadas ao alto e em patamares, ocupando zonas com 300m de altitude e zonas mais próximas da ampla frente de rio, os vinhedos beneficiam de diferentes exposições solares. Para além da vinha, existem cerca de 6.000 pés de oliveiras, um pomar com 800 laranjeiras, tangerineiras, limoeiros e outras árvores de fruto, e cerca de 88ha de área florestal classificada.