As uvas de Galileu e o caminho solar

As uvas de Galileu e o caminho solar

Reza a lenda que, num final de tarde de Verão, Galileu Galilei terá olhado para a forma como a luz incidia sobre os cachos dourados das encostas da Toscânia e, por epifania, proferido a seguinte frase:
‘O sol, apesar de todos os planetas que revolvem sobre ele e dele dependem, continua a amadurecer os cachos de uvas como se nada mais tivesse para fazer no universo.’

Galileu estava certo. O sol generoso sempre criou as melhores regiões vitivinícolas do mundo. E, durante anos, desperdiçámos uma grande parte dessa imensa generosidade. Por impedimentos tecnológicos e alguma inércia que sempre espreita por entre as tarefas do quotidiano, desde a nossa fundação até 2013 dependemos da energia eléctrica integralmente fornecida a partir do exterior da Herdade do Esporão. Porém, a mudança estava mesmo à frente dos nossos olhos. Quem visita a zona florestal no lado sul da herdade depara-se com o paredão da albufeira no seu regresso ao enoturismo para se refrescar e, nesse momento, faz-se luz.
Uma questão de electrões
A maior parte de nós ou não teve ou já não se lembra das aulas de física onde se explica como se converte luz em electricidade. Bem, de uma maneira muito simples, podemos dizer que a luz tem uma característica única, que é o facto de ser uma onda e uma partícula ao mesmo tempo. Estas unidades de luz chamam-se fotões e têm a capacidade de aumentar o estado energético de certos materiais que, após uma determinada quantidade de fotões – as tais partículas-onda de luz – libertam uma pequena partícula com propriedades eléctricas: o electrão. Este, tendo uma carga negativa, é atraído por superfícies com carga positiva e, ao transitar para essa superfície, gera uma variação de potencial entre as duas superfícies – o electrão e a camada positiva que o atraiu. Esta agitação entre duas camadas que funcionam como pólos opostos gera corrente eléctrica contínua que, ao passar por um inversor, se transforma em corrente eléctrica alternada, pronta para ser armazenada numa bateria ou ser usada na rede eléctrica convencional. Da mesma forma que as vinhas e oliveiras transformam o sol (mais água e dióxido de carbono) em açúcar, os painéis solares transformam luz noutras formas de luz e movimento.
Dias de Sol na Herdade do Esporão
Em 2013 instalámos o primeiro parque solar da herdade, no paredão da albufeira da Caridade. Os 865 painéis distribuídos numa área de 720m2 garantem uma potência de pico de 100KW, o que resulta numa produção anual de 180 KWh. Na sequência dos resultados de 2013 só haveria uma coisa a fazer – reforçar a aposta.

Em agosto de 2014 instalámos o segundo parque solar, desta vez sobre um dos edifícios mais emblemáticos da marca Esporão – a adega. A orientação sul-sudoeste era perfeita e a área disponível bastante ampla, resultando numa área de praticamente 1900m2 de painéis solares que nos garantem uma potência de pico de 250KW, o que por sua vez se reflete num retorno de mais de 440 KWh de potência anual.

Qual o impacto deste investimento numa parceria para exploração da energia solar? Hoje, somos auto-suficientes em 50% da energia elétrica que consumimos, e queremos melhorar estes números.

O sol que torna as uvas de galileu douradas
Galileu podia estar descansado, o sol da Toscânia ainda iria ter todo o tempo do mundo para dourar e pintar as uvas que ele contemplava e muitas mais que viriam nos séculos seguintes.

O sol tem esse poder, de transformar e trazer bonança.

No caso da Herdade do Esporão, este investimento teve resultados financeiros muito positivos, que demonstram que a sustentabilidade é uma filosofia de gestão e não um aditivo para dar cor ou sabor. Todos os dias, quando o sol nasce e se passeia pela herdade, os nossos painéis fazem um murmúrio electrónico, que varia de tom com a estação do ano, mas que permanece e nos incita a continuar a avançar firmemente pelo caminho solar.