«A minha história aqui no Esporão começou em 1992. Naquela altura estava a trabalhar no Norte, no Douro e recebi uma chamada do Dr. Roquette para vir cá chefiar a enologia. Precisavam de alguma ajuda e desde o primeiro momento que visitei a herdade, percebi que era uma oportunidade incrível, um desafio enorme. Parece que foi num instante mas passaram-se 25 anos.

O Alentejo e a própria Herdade fazem-me lembrar a minha terra na Austrália e, por isso, senti-me desde logo em casa. Vi aqui no Esporão uma oportunidade de fazer um projecto enorme com uma qualidade que não existiam em muitos lugares em Portugal. Havia muita coisa para fazer, tanto na viticultura como na enologia. Nos primeiros anos ajudei muito na parte da agricultura, com as castas que foram plantadas e forma de conduzir as coisas na vinha. Na adega, muitas coisas precisavam de mudar como a parte evolução dos vinhos em barrica que não estava a ser bem conduzido, e os processos precisavam de evoluir.  Acho que tudo acabou por acontecer na altura certa. Quando cá cheguei, vim numa altura de mudança em que as pessoas começaram a preocupar-se mais com a qualidade do vinho que bebiam. Os vinhos alentejanos começavam a estar na moda. Lançámos o Monte Velho, os monocastas e muitas marcas logo nos primeiros tempos.

Uma das coisas que a Herdade tem a seu favor, entre muitos aspectos aspectos, é o clima e a quantidade de castas que temos à nossa disposição para experimentar e fazer lotes. A adaptabilidade das castas ao nosso clima é surpreendente porque é muito parecido com o de Barousse Valley, de onde venho, na Austrália e o que sinto é que aqui as castas se expressam melhor e os vinhos saem com uma grande elegância, equilíbrio e complexidade. Obviamente temos bastante grau alcoólico e taninos que são características dos vinhos aqui no Alentejo mas nos vinhos nunca são demasiado pesado como acontece na Austrália. A cada ano, fui ficando mais surpreendido porque parecia que ia ficando mais calor e mesmo assim isso acaba por não se reflectir na qualidade dos vinhos.

Nos últimos anos, mudámos a nossa agricultura convencional para uma agricultura integrada. Tornámo-nos mais cuidadosos e atentos na vinha até chegarmos a uma agricultura biológica. Não foi uma coisa que aconteceu de um dia para o outro, foi um longo processo de trabalho e respeito pela natureza. Hoje, sabemos que estamos a trabalhar melhor o ambiente, a ser mais responsáveis.

O Colheita 2015 é o ponto de partida. É este o caminho de todos os nossos vinhos.

Estou cada vez mais confortável com o nosso modo de produção agrícola. Os resultados dos ensaios têm sido bastante positivos e sinto uma pureza na fruta que é o que nós imaginamos o que é ser orgânico. O Esporão Colheita é um bom exemplo disto, com a sua pureza, densidade na fruta e solidez».