Pese o famoso hit popularizado por Quim Barreiros, citado em epígrafe, raramente as garagens têm papel de destaque na vida das cidades. São úteis, é certo, para quem delas pode desfrutar, mas também são lugares estéreis, impessoais e com um persistente aroma a gases de combustão. Também é frequente provocarem um certo sentimento de desilusão em condutores à procura de estacionamento, por transformarem lugares apetecíveis em ermos inúteis.

Vem o introito a propósito do mais recente festival gastronómico do país. Chama-se EAT OUT e quer reunir os melhores chefs e restaurantes de cada cidade em lugares inusitados. Ora nesta primeira edição, que acontece de 30 de outubro a 1 de novembro, em Lisboa, esse lugar inusitado é, precisamente, uma garagem. Trata-se da denominada Garagem Auto Palace, no Rato, um edifício que data de 1908 e cuja estrutura metálica foi projetada por Gustave Eiffel, responsável pela torre homónima, em Paris.

A garagem em questão, sejamos justos, até nem é nada apertadinha. E dá jeito que assim seja, não só porque a oferta em questão merece espaço mas também porque o evento promete ser concorrido. No local, ainda hoje utilizado como oficina — e cuja decoração, de autoria de Sílvia Costa, honrará essa função –, estarão representados, cada um com o seu espaço, os chefs Marlene Vieira, João Sá, Kiko Martins, Paulo Morais,Bertílio Gomes e Chakall e os restaurantes SushiCafé, Mercantina e Prego da Peixaria. O projeto Ostraria também marcará presença de forma itinerante, circulando pelo recinto com a sua oferta de ostras nacionais.

Ao centro ficará a zona de bares, cujas propostas andarão entre as cervejas Estrela Damm (da Lager original de 1876 à Inedit Damm, desenvolvida em parceria com o chef Ferran Adrià, do mítico elBulli) e os vinhos da Herdade do Esporão, Aveleda, Casa Ermelinda Freitas, Herdade dos Grous ou Carm, passando pela 7Up, presente com um conceito à base de cocktails com e sem álcool, ou algumas outras opções, mais ou menos espirituosas.

Quem já estiver a pensar reservar lugar ou comprar bilhetes em antecipação pode tirar daí a ideia: não se fará uma coisa nem outra. O sistema de entrada funcionará tipo discoteca, através de um cartão de 10€ revertível em consumo de comida e bebida até às 21h ou só bebida a partir dessa hora.

Rodrigo Saraiva, diretor-geral da Ipsis, a consultora de comunicação responsável pela criação do conceito EAT OUT — a produção está a cargo da Dot Global— revela que este é um evento que foi “pensado por foodiese gourmands, pessoas que gerem, inclusive, as suas férias em função dos sítios onde vão comer”. Inspirados por “algumas coisas que acontecem lá fora, nomeadamente em Londres”, será intenção dos responsáveis repetir este EAT OUT várias vezes ao ano. “Estar a dizer que será um evento mensal ou trimestral é extemporâneo. O facto de querermos locais inusitados causa-nos algumas limitações positivas. Temos já vários espaços identificados, é questão de entrarmos em contacto com os proprietários e avançar a partir daí”, explica Rodrigo.