“Acordámos ainda de noite e seguimos pela planície e por uma extensão imensa de vinhas desenhadas de forma geométrica, mais tarde voltaremos aqui. Subimos suavemente o montado junto às margens de uma albufeira onde  as primeiras aves assinalam o crepúsculo e entramos finalmente na área selvagem à volta da herdade. Perseguimos os poucos minutos da melhor luz e névoa que se podem obter aqui no sul.

Como nós, estes bosques acordam para mais um dia quente de primavera, a natureza surge aqui como que intocada, os coelhos de orelhas pontiagudas levantadas apanham os primeiros raios de sol e dão-nos as boas-vindas. Uma raposa. Um veado. Morcegos voltando para os ninhos cuidadosamente colocados ao redor das vinhas. Sinais de javalis no chão. Mais tarde, saberíamos como todos esses animais são peças do puzzle da biodiversidade local, cuidadosamente administrada, e ficaríamos a saber como os javalis, por exemplo, são bem-vindos nas vinhas para um ocasional pequeno almoço de uva. Esta é uma exploração agrícola biológica, enorme, e o Homem encontrou na natureza e neste sistema ecológico específico tudo o que precisava para produzir alguns dos grandes vinhos portugueses.

O sol já vai alto e estamos de volta às vinhas. As videiras terminaram o período de dormência e começaram a brotar. O ciclo começou. Aqui e ali, nesta enorme extensão de vinhas, encontram-se grupos de mulheres a trabalhar, a limpar as vinhas.

Há uma sensação de tranquilidade em toda a propriedade, um trator ocasional e alguns homens pintam as paredes da adega. Consigo imaginar como esta paz acabará na época da vindima.”

João Bernardino @joao.bernardino