No Ribatejo com o chef Rodrigo Castelo

No Ribatejo com o chef Rodrigo Castelo

A nossa viagem à descoberta do verdadeiro Ribatejo começou em Santarém. O chef Rodrigo Castelo, nosso guia do dia, esperava-nos no seu restaurante, a Taberna Ó Balcão – uma antiga taberna remodelada em 2013 que mantém o balcão original.

Chegámos cedo mas já se sentia o movimento pré-serviço. Antes de seguir connosco, o chef precisava de deixar tudo em ordem e dar todas as instruções à sua equipa. Convidou-nos rapidamente a entrar na cozinha, mostrando-nos como tudo funciona diariamente e desvendando algumas das experiências que tem feito, e outras que ainda guarda na gaveta para testar.

Só à saída conseguimos apreciar melhor o restaurante e a sua decoração. Pequeno, mas com boa arrumação e uma luz incrível, é um lugar acolhedor e quase um museu – pratos de mil cores, roubados à avó, algumas andorinhas de Bordalo Pinheiro, relógios e cartazes antigos, os azulejos do balcão, as mesas de mármore e as cadeiras de madeira. Um espaço muito português e marcadamente Ribatejano. Na ementa, a região é também a principal inspiração. Não tivemos tempo de provar nenhum dos pratos, como o Pica-pau de toiro bravo de lide, mas não saímos de lá tristes. Sabíamos que nos esperava um grande almoço.

1 / 2
2 / 2
Enquanto tomávamos o pequeno-almoço, o chef Rodrigo contou-nos que apesar de ter um gosto especial pela gastronomia desde pequeno, não era este o caminho que tinha idealizado para si.

“Trabalhei alguns anos na indústria farmacêutica, até que tive um acidente e, quando regressei de baixa, fui despedido”.
Deste azar, abriram-se portas para uma nova oportunidade, para começar de novo. E foi um instante até se enfiar na cozinha e nunca mais de lá sair.

O trabalho de Rodrigo vive muito da sua paixão pelo Ribatejo e a sua missão é sempre enaltecer a região e, por isso, para o nosso almoço escolheu uma carne especial. Fomos até Amiais de Baixo, a terra do bode capado.

No talho de uns amigos, Irmãos Santos, descobrimos mais sobre este cabrito que é capado à nascença para ganhar mais gordura e peso. É um símbolo da região e, todos os anos, protagonista de um festival que lhe é dedicado – o Festival do Capado.

No Ribatejo é tradição juntar amigos em tertúlias, um espaço para conversar, provar iguarias e beber bom vinho. A nossa última paragem foi a tertúlia do chef Rodrigo, em Caneiras.

“Quando tive o acidente e voltei do hospital, a minha mulher, para me animar, perguntou-me se gostava de ter uma tertúlia dedicada aos meus onze anos como forcado. E assim foi, com a ajuda do meu sogro, transformámos a garagem na minha tertúlia, com paredes forradas de fotografias daqueles tempos. Tenho uma admiração pelo touro bravo desde aquela altura, este lugar é-lhe também uma homenagem e o mesmo acontece em tudo o que faço na cozinha em que utilizo a sua carne.” chef Rodrigo Castelo

Lá esperavam-nos alguns amigos, vinho e petiscos da região: queijos, enchidos e camarinhas desidratadas (camarões pequenos utilizados como isco na pesca no Tejo, que o chef recuperou no seu restaurante como uma verdadeira iguaria).

1 / 5
Chef Rodrigo Castelo
2 / 5
Tertúlia na Taberna Ó Balcão com a banda Três Bairros
3 / 5
Dois dos Três Bairros
4 / 5
5 / 5
O capado, já previamente marinado, e cozido durante 48 horas a 52 graus, precisava apenas de ser torrado no forno a lenha com toucinho fumado de Pernes, pimentões, calda de alho, alecrim, tomilho, hortelã da ribeira, sal de Rio Maior e batatas.

Enquanto esperávamos que estivesse pronto, provámos costeletas grelhadas apenas com sal e pão saloio. Como banda sonora, tivemos  o projecto Três Bairros, três músicos amigos do chef que se juntaram a nós para o almoço.

Lá dentro, a mesa corrida perto da lareira foi-se preenchendo. O capado foi servido e fez as delícias de todos. O Esporão Reserva 2014 foi o vinho escolhido e a festa prolongou-se pela tarde dentro. Não foi fácil despedirmo-nos. Estávamos entre amigos e o Ribatejo é um lugar especial.

1 / 4
2 / 4
3 / 4
4 / 4