Dez anos pelas encostas e vales da Quinta dos Murças, no Douro

Dez anos pelas encostas e vales da Quinta dos Murças, no Douro

Passaram-se dez anos desde que chegámos à Quinta dos Murças, no Douro. Parece que foi ontem que pusemos os pés pela primeira vez naquela Quinta, que reunia todas as condições que então procurávamos para fazer vinhos de grande qualidade na região.

Em dez anos, reestruturámos a vinha e convertemo-la para modo de produção biológico, e melhorámos a adega, introduzindo novas tecnologias e recuperando, ao mesmo tempo, meios de vinificação mais tradicionais, como os lagares de granito.

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Durante este tempo, temos vindo a descobrir muito sobre a Quinta e, em simultâneo, a perceber que há ainda muito por descobrir.

Duarte Belo tem acompanhado a sua evolução, e a nossa, com especial atenção à Natureza, ao território e à história, desde 2008. Pedimos-lhe que partilhasse uma síntese dos seus registos e impressões, em fotografia e em escrita, que nos contasse as suas impressões sobre esta década. Aqui os deixamos:

DEZ ANOS VOLVIDOS
Paro o carro junto a um pinheiro e uma casa em ruínas. Era mesmo local onde o havia feito na primeira vez que visitara a Quinta dos Murças. Desci pela encosta ao longo das linhas de vinha. Tinham passado dez anos mas aquele lugar não estava muito diferente. Até a luz era bastante semelhante à que havia encontrado naquele ano de 2008, uma madrugada fria e sombria. Feitas algumas fotografias, fui avançando na direcção de Covelinhas pela estrada estreita com a paisagem desenhada em tons de Outono. Vou me apercebendo de alterações cada vez mais profundas. As vinhas estão diferentes, muitas delas foram replantadas, algumas com novos alinhamentos. Ainda há parcelas em espera, mas o que se nota neste lugar é o aparecimento de uma nova vida, passado dez anos. A casa estava também recuperada. Mantinha-se intacta a natureza duriense daquele território.
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Ao deixar o local, olho para trás. A imponência das ruínas fala-nos das dimensões ambíguas das paisagens, da relação que estabelecemos com os lugares, com o tempo que passa mas em que sempre algo permanece, como que a preservar pedaços de memória, apontamentos sobre um processo continuado de entender a terra, de nela habitarmos, de continuamente procurarmos formas de integração mais plena.

Duarte Belo