“Há mais ou menos 150 anos, os pescadores da zona de Vieira de Leiria e, depois, de mais ao Norte, começaram a migrar para o sul, fugindo dos mares revoltos de invernos e procurando sustento nas águas calmas do Tejo, onde abundavam espécies como o Sável, a enguia e a Lampreia. Muitos começaram a viver nas margens do rio, dormindo muitas vezes nos barcos, e foram com o tempo construído pequenas casas. Estes “nómadas do rio” como Alves Redol lhes chamava, criaram assim aldeias, com casas edificadas em cimas de pilares e pintadas de cores garridas. Estas aldeias “Avieiras” chegaram a ser no Rio Tejo mais de 80 nos anos 80. Hoje, restam apenas algumas.

Numa destas aldeias, a aldeia da Palhota, gravámos esta receita do Ensopado de Enguias. Conta o fadista Zé Miguel Amador, conhecido nestas terras ribatejanas por o “Baixinho do fado”, que nesse tempo, havia muitas enguias no Tejo e que a enguia não valia quase nada na praça, obrigando os pescadores a aproveitar a enguia como alimento, criando assim um prato de aproveitamento, utilizando também o pão duro e a moira (unto cozido e esmagado, com vinagre, sal e um pouco de caldo).

A enguia começa o seu ciclo vital migratório no mar dos Sargaços, ao largo das costas das Bermudas, onde as fêmeas adultas ocorrem a depositar os seus ovos. Depois as larvas fazem uma viagem de crescimento até às costas da Europa e do norte de África, onde invadem os estuários dos rios e sobem por eles acima, invadindo tudo o que é riachos, rios e lagos, transformando-se, só então, em enguias. Por isso mesmo é possível ter receitas de enguias em Portugal do Algarve ao Minho.”

TIAGO PEREIRA