Lisboa é um conjunto de aldeias e de influências e, se isso se pode ver musicalmente com aqueles que vêm das Beiras e do Minho, com os que vêm do Alentejo, ou mesmo da Índia ou do Bangladesh, o mesmo também acontece na gastronomia – as várias culturas introduziram-se e criaram coisas novas, e também, por razões históricas, muitos produtos cá vieram parar. Dessa forma a gastronomia Lisboeta sempre foi uma mistura dos que vinham do Norte e do Sul do país, mas também do exterior, muito rica em petiscos, muitos de origem animal.

Lisboa serviu como entreposto de produtos e de aproveitamento de todos eles, quer pela conservação, quer pela necessidade de tudo aproveitar. Por isso mesmo, as extremidades animais sempre fizeram parte das tascas: as moelas, os pipis, as sandes de torresmos, os rins e até corações foram sendo comidos um pouco por toda a cidade e, depois, com os tempos, também foram desaparecendo.

Essa Lisboa rica em migrações internas e externas produz uma diversidade de influências que ainda hoje existe e pulsa na cidade, mas que se foi transformando com o tempo. Esta receita bastante simbólica, um coração cravejado de cravinhos, representa uma Lisboa que está ali e ao mesmo tempo não está.