Quando uma brasileira se apaixona pelo Alentejo

Quando uma brasileira se apaixona pelo Alentejo

A paixão por viagens e a vontade de conhecer o mundo trouxe Michele Marques a Portugal. Brasileira, habituada a grandes voos, escolheu este cantinho da Europa pelo conforto da língua e, principalmente, por ter cá amigos.

Além da mochila às costas, sempre foi de colocar as mãos na massa na hora de preparar almoços e jantares de família. E, como muitos cozinheiros, a sua história na cozinha acabou por se iniciar só mais tarde. Estudou comunicação social com a ambição de ser jornalista mas, mais uma vez, uma viagem mexeu-lhe no destino. Em Itália, tirou um curso de cozinha para iniciantes que fê-la recuperar memórias e foi aí que se deu o click – no regresso a Portugal, inscreveu-se na Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre. A partir daqui, o seu futuro correu o percurso natural e pouco tempo depois estava a estagiar com o chef João Rodrigues no Restaurante Feitoria, em Lisboa.
1 / 3
2 / 3
3 / 3
O sossego do Alentejo, a riqueza gastronómica e a hospitalidade da sua gente convenceram-na que Estremoz era o lugar certo para se instalar. Determinada, sabia que queria abrir um espaço seu que fosse diferente de tudo o que já existia na região. Um sítio onde se vai beber um copo de vinho, comer uns petiscos na companhia da família e amigos, e levar produtos para casa. A premissa estava lá e a boa relação com produtores portugueses deram o impulso que faltava para, em 2009, abrir a Mercearia Gadanha. O sucesso foi-se construindo e esta pequena mercearia ganhou o seu espaço, começando a ser visitada por pessoas de todo o lado. Daqui até sentir a necessidade de alargar o espaço e o conceito, passaram quatro anos. Em 2013, esta brasileira sonhadora, estava a cozinhar grandes petiscos alentejanos como se aqueles fossem os sabores com que sempre cresceu. A ideia nunca foi parecê-lo, competir com as memórias dos pratos das mães e avós era uma pressão que não queria para si e, por isso, tentou combinar as suas próprias memórias, raízes e experiências com a gastronomia portuguesa.
«É engraçado. Cresci com a minha avó a fazer pastéis de bacalhau, por exemplo. Acho que os temperos e as bases portuguesas são muito parecidas com as nossas. A minha mãe costuma fazer uma sopa de “entulho” que é tal e qual a sopa da pedra. Na minha cozinha junto um pouco do que aprendi com os meus pais.»
1 / 5
2 / 5
3 / 5
4 / 5
5 / 5
«O Brasil tem muita influência Portuguesa desde os descobrimentos. Isso também se nota na cozinha. Nas caravelas, os Portugueses levaram um historial culinário que, sem dúvida, até hoje tem efeito em todas as regiões do Brasil. O Brasileiro por sua vez, adaptou o receituário com o que havia na região – há uma riqueza enorme de ingredientes. A isto, juntam-se também as influências indígenas e africanas. É engraçado. Cresci com a minha avó a fazer pastéis de bacalhau, por exemplo. Acho que os temperos e as bases portuguesas são muito parecidas com as nossas. A minha mãe costuma fazer uma sopa de “entulho” que é tal e qual a sopa da pedra. Na minha cozinha junto um pouco do que aprendi com os meus pais. E talvez o que trago comigo para cada prato sejam essas lembranças.» Michele Marques
1 / 3
2 / 3
3 / 3
Rodear-se das pessoas certas também foi um factor importante e a tia Manuela, uma tia de coração que ganhou cá em Portugal, aparece no seu caminho assim. Ao longo dos anos tem sido uma das suas maiores inspirações e conselheiras no que toca à gastronomia tradicional portuguesa. Entre muitos, os Pezinhos de Coentrada foi um dos pratos que Michele aprendeu com esta tia, e que tem reinterpretado à sua maneira com um toque mais fresco.

Para quem não conhece, a história e os petiscos da Michele e da sua equipa merecem uma visita à Mercearia Gadanha, em Estremoz.