Madalena Martins: uma cabeça criativa

Madalena Martins: uma cabeça criativa

Depois do curso de Design e Comunicação na Faculdade de Belas Artes do Porto, Madalena Martins escolheu o Porto para viver. Desde o primeiro minuto que começou a trabalhar em Design e, coincidência ou não, o seu primeiro trabalho foi precisamente fazer aquilo que escolheu fazer até hoje – aplicar a cultura portuguesa ao design contemporâneo.

«Fui desenvolvendo diferentes projectos de design gráfico para clientes, o convencional, até perceber que o meu caminho era reinventar a nossa cultura, tudo aquilo que o quotidiano nos traz e dar-lhes uma nova vida, num novo formato.»

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Madalena Martins no seu estúdio
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Hoje divide-se em diferentes trabalhos que a fazem sair do atelier, sempre de sorriso no rosto.

«Passei do design gráfico puro, da mensagem bidimensional, para a mensagem em formato objecto – objecto contador de histórias. Tenho a oportunidade de sair do atelier para trabalhar com pessoas diferentes, de áreas muito distintas. E isso deixa-me feliz».
Trabalha com uma imensidão de matérias e está sempre em contacto com a parte de produção. Trabalha de mãos dadas com artesãos, pequenas fábricas nacionais, oficinas e prisões.

«Desde que comecei a trabalhar nas prisões, encontrei um outro lado que se revelou  uma incrível descoberta – a componente social. Perceber que o meu trabalho pode contribuir para melhorar um bocadinho a vida daquelas pessoas, acrescenta muito valor ao projecto e humaniza os objectos».

A sua história com o Esporão também passa por esta componente social.

«Numa conversa com o Eduardo Aires, da White Studio, e o antigo director de marketing do Esporão, o Filipe Caetano, falámos da possibilidade de haver uma colaboração. Nessa altura, gostaram muito dos meus Cadernos-Escama, feitos pelos reclusos e desafiaram-me a adaptar aquele conceito ao universo Esporão».

Rapidamente surgiu a primeira encomenda para a capa da Agenda Esporão 2015. Nessa altura, Madalena visitou a Herdade do Esporão para redesenhar o conceito para uma linguagem adaptada à identidade Esporão.

«Fui conhecer a Herdade do Esporão e perceber todo o universo de excedentes de produção que existiam. Depois redesenhei o conceito para uma linguagem adaptada à identidade do Esporão, com o tradicional padrão da manta alentejana. Fizemos uma série limitada onde cada agenda era uma peça única e reflectia fisicamente rótulos de vinho, menus do enoturismo, objectos gráficos descontinuados que faziam parte da história da marca. É giro pensar que para além de estar a reutilizar as matérias excedentes do Esporão, estou também a prolongar a vida de objectos gráficos desenhados por outros designers, neste caso pela White Studio. O design dos outros acaba por ser também a minha matéria prima».

Agenda Esporão 2015
O trabalho teve a sua continuidade com a criação de uma nova roupagem para lápis “vestidos” com rótulos de vinho, cadernos, bases para quentes, copos para lápis feitos totalmente em papel, cabeçudos e outras novidades que ainda estão para chegar.

«Esta bonita colaboração é uma soma de valores: identidade Esporão + design + responsabilidade ambiental e social».

Uma das grandes novidades do Dia Grande 2017 foi a Zona de Crianças. Admiradores do trabalho da Madalena, desafiámo-la logo a desenhar um lugar dedicado aos mais pequenos.

«Sempre existiu uma vontade enorme de participar no Dia Grande e este ano, finalmente, foi possível. Queria muito estar presente de um modo mais criativo e em conversa com um amigo, ele lembrou-se que seria giro fazer uma espécie de ‘piñata’. Rimos e fiquei a pensar nessa ideia, que seria interessante construí-la com desperdícios, com brinquedos dentro, também pensados com a reutilização de materiais da Herdade, e que isto se podia reflectir numa oficina. Contei a minha ideia e todos adoraram e desafiaram-me a fazer algo maior para todo o espaço das crianças. Pensar a cobertura, o cabeçudo, a oficina, mas também enquadrar as tradições portuguesas que é a identidade do meu trabalho. Juntei o meu universo ao do Esporão e construí uma cobertura com flores de papel, a transportar-nos para a Festa das Flores, e outra com bandeirinhas feitas com desperdícios de rótulos do Esporão. Por fim, as oficinas com os mais pequenos, onde cada um construiu o seu cabeçudo, misturando, mais uma vez, materiais gráficos do Esporão com a fresca e hilariante imaginação das crianças. Foi muito bonito».

Com um prazo curto e o seu perfeccionismo habitual, os preparativos foram intensos e divididos por várias mãos.

«Dediquei-me de corpo e alma para que o resultado final fosse o do desenho que imaginei. Primeiro, partilhei trabalho entre prisões. Os reclusos do Estabelecimento Prisional de Viana do Castelo fizeram a incrível montagem das 6 000 flores de papel. Os de Paços de Ferreira as bandeirinhas feitas de rótulos e parte dos brinquedos. Enquanto isso, as Oficinas do GAF estavam já a fazer as 40 bases de cabeçudos para as oficinas e depois, muito trabalho de atelier. Já fiz muitos cabeçudos mas nunca nenhum com função de ‘piñata’, foi muito estimulante de construir. Com a ajuda de uma amiga, construímos 300 brinquedos. Sempre em pontos geográficos diferentes, mas foi um belo trabalho de equipa».

Uma semana antes do Dia Grande, já com os materiais todos prontos, a Madalena mudou-se de ‘tintas’ e bagagens para a Herdade do Esporão.

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«Foram dias maravilhosos, apesar do trabalho. Conhecer os cantinhos da Herdade, as pessoas. É muito gratificante quando começas finalmente a dar corpo ao desenho e bate tudo certo. Foi muito importante ter conhecido a Herdade antes. É fundamental sentir os sítios para depois criar para eles. Na Herdade sentimos uma grande tranquilidade e harmonia – a natureza, as matérias, os sabores, os aromas, a arquitectura, o design. E percebemos que esta harmonia existe muito também pelas pessoas. Foi uma experiência muito bonita, até ao último minuto. Foi uma semana Grande».

A semana grande que só terminou no final da festa. Foram meses de preparação que resultaram num lugar  inspirador para as crianças brincarem, aprenderem e serem criativos. Durante o Dia Grande, a Madalena acompanhou os workshops e actividades junto das crianças e as suas expectativas foram correspondidas.

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«Estava um pouco ansiosa por esta ser a minha primeira experiência com crianças mas quando na oficina da tarde vi crianças a correr a tentar segurar um cabeçudo para garantirem que conseguiam fazer um, fiquei de coração cheio. Foi tão criativo e tão divertido, nem eu esperava tanto. E todo o feedback que recebi foi muito bom, senti que as pessoas (não só as crianças) gostaram e desfrutaram do espaço. Antes do Dia Grande acontecer, tinha a sensação que ia para um sítio encantado mas que era real. E foi mesmo. Obrigada a todos».

Obrigado nós, Madalena.